terça-feira, junho 05, 2012

Aprender, sempre...

Caro(a)s colegas de LCB4N, boa tarde.

Eu não costumo escrever textos como este, mas senti necessidade de compartilhar muitas coisas com vocês desta vez. Por favor, reservem um tempinho para ler (com calma), e, de preferência, até o fim.
Nosso convívio de três semestres e duas aulas (sim, as duas aulas que dei no primeiro semestre ao substituir a Gloria em FFAMB) ensinou-me muitas coisas. Se você estiver se perguntando como é que o nosso convívio me ensinou algo, eu respondo assim: mesmo depois de duas décadas e alguns anos (muitos anos!!!) ensinando, a gente aprende, sempre. Professor que não aprende não é professor, é repetidor de algo pronto e acabado.
Voltando ao que aprendi com nosso convívio... Aprendi que esperar demais por resultados é bom porque tenta animar os que pretendem agregar mais conhecimentos do que os que são simplesmente comentados em aula, mas esperar demais por resultados é ruim porque acaba solapando alguns que não acompanham o ritmo por vezes acelerado.
Aprendi que se preocupar demais com o que os outros pensam de nós é algo importante porque podemos, eventualmente, tentar elucidar as melhores práticas, mas também notei que se preocupar demais com o que pensam de nós pode ser uma ratoeira que nos prende a detalhes e nos faz cair em tautologias.
Aprendi que a relação em sala de aula é uma dessas coisas que não se consegue definir logicamente. Cada dia é diferente, cada aula é única, cada aluno chega e sai de um jeito, cada conteúdo faz com que a aula seja mais legal ou mais chata.
Aprendi que caímos em vícios pedagógicos que, após três semestres, saturam a maneira de encarar a dinâmica da aula, e gente nova chegando na área acaba despertando mais curiosidade e afinidade.
Aprendi que as relações entre alunos e professores são muito idênticas às dos namorados e dos casados, dos amantes e de todas as outras relações interpessoais: hoje estamos a mil, amanhã nos odiamos, depois passamos a nos suportar, voltamos a nos amar, depois vem certo distanciamento.
Aprendi que tentar trabalhar estilos de aula em que pensar ao invés de memorizar coisas seja, talvez, uma atitude brusca demais, que afasta ao invés de agregar. Pessoas que têm mais talento para aulas teatrais ou mais 'animadas' ofuscam este estilo de aula.
Aprendi que santo de casa não faz milagre. As pesquisas que realizamos, os livros que escrevemos e outras tantas coisas que publicamos são mais lidas por pessoas de fora do que por aquelas que nos rodeiam.
Aprendi que há pessoas que preferem manter-se na linha média, admitindo que uma nota 6,0 está excelente ("afinal, é a nota mínima para aprovação!"), e aprendi que há os que não se conformam com um 9,0. Afinal, lidamos com a heterogeneidade, e esta prevê diversas nuanças.
Aprendi que é mais fácil trabalhar conteúdos prontos em livros didáticos que tentar trabalhar coisas ainda por saber, por investigar. Professor-pesquisador talvez não dê tanto ibope quanto professor que mastiga mais o conteúdo (afirmo a vocês que esta constatação é uma das que mais me chateiam... sempre odiei conhecimentos prontos, acabados. Não gosto de fazer questionários, não gosto de aulas do tipo 'cursinho', não vejo o aluno do curso superior como sendo mero receptáculo de informações. Mas há os que preferem isto a uma aula mais investigativa. Fazer o que, né!).
Aprendi que é necessário darmos um tempo para não desgastar a relação. Aprendi a gostar de cada um, do seu jeito, apesar de todas as crises que fortuitamente nos assolam e que fazem parte da natureza humana. Até os santos, os iluminados, os profetas e quaisquer outros personagens considerados 'superiores' a nós passaram por crises. Como dizem os chineses, as crises são oportunidades para se vislumbrar êxitos futuros. E neste aprendizado de cada um de vocês 19 que ficaram, que lutam por um curso melhor e por um IF melhor, noto que há diversas tipologias simbólicas (talvez por gostar tanto de plantas e de botânica, minhas tipologias serão alusões vegetais! Para quem tiver curiosidade, vale uma leitura rápida em:
http://www.jardimdeflores.com.br/CURIOSIDADES/A08simbologia.html). Há entre vocês girassois, açucenas, avencas, miosótis, madressilvas, cravos, camélias, amarílis, centáureas, margaridas, dedaleiras, jacintos, jasmins, alfazemas, narcisos, orquídeas, amores-perfeitos, prímulas, violetas e ninfeias. Cada flor traz em si pontos positivos e pontos negativos, como tudo na vida. Tento, sempre, ver o lado positivo, pois só assim conseguimos vencer as rusgas e avançar.
Temo que minhas mensagens (não somente as de conteúdo, mas muitas outras, ligadas à vida, à experiência, ao saber como um todo...) não tenham sido digeridas, mas a função de quem investe em educação é lançar sementes. E, mais uma vez, lanço mão da analogia botânica: a semente é uma estrutura morta que só revive quando colocada em meio propício. Faço votos de que muitas sementes que tentei lançar no solo chamado LCB4N logrem êxito, quebrem a testa dura e deixem o embrião vigorar. E que cresça o eixo hipocótilo-radicular!
Aposto em cada um de vocês. Não desistam, nunca, apesar das adversidades.
Um grande abraço.
Fernando

terça-feira, abril 03, 2012

Portal Scielo - Livros Eletrônicos

SciELO Brasil lança portal de livros eletrônicos



03/04/2012


Por Elton Alisson


Agência FAPESP – Foi lançado em 30 de março, durante evento na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São Paulo, o portal SciELO Livros.


Integrante do programa Scientific Eletronic Library Online SciELO Brasil – resultado de um projeto financiado pela FAPESP em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme) –, o portal visa à publicação on-line de coleções de livros de caráter científico editados, prioritariamente, por instituições acadêmicas.


A iniciativa pretende aumentar a visibilidade, o acesso, o uso e o impacto de pesquisas, ensaios e estudos realizados, principalmente, na área de humanas, cuja maior parte da produção acadêmica é publicada na forma de livros.


“Uma porcentagem significativa de citações que os periódicos SciELO fazem, principalmente na área de humanas, está em livros. E como um dos objetivos da coleção SciELO é interligar as citações entre periódicos, a ideia é também fazer isso com livros”, disse Abel Packer, membro da coordenação do programa SciELO, à Agência FAPESP.


De acordo com Packer, a ideia do projeto foi sugerida em 2007 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e foi iniciado em 2009 sob a liderança e financiamento de um grupo formado pelas editoras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Fiocruz.


O desenvolvimento da plataforma metodológica e tecnológica contou com a cooperação da Bireme, e a execução do projeto teve apoio institucional e de infraestrutura da Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).


Inicialmente, o portal reunirá cerca de 200 títulos, distribuídos mais ou menos igualmente entre as editoras das três universidades. A partir do lançamento, a expectativa é que a coleção possa contar com a adesão de outras editoras acadêmicas.

Para integrar o portal, as editoras e as obras são selecionadas de acordo com padrões de controle de qualidade aplicados por um comitê científico e os textos são formatados de acordo com padrões internacionais que permitem o controle de acesso e de citações.


As publicações poderão ser lidas por meio de plataformas de e-books, tablets, smartphones ou na tela de qualquer computador, acessadas diretamente do portal ou de buscadores na internet, como o Google, e também serão publicadas em portais internacionais.


“A ideia é contribuir para desenvolver infraestrutura e capacidade nacional na produção de livros em formato digital e on-line, seguindo sempre o estado da arte internacional”, explicou Packer.


Segundo ele, a plataforma metodológica e tecnológica desenvolvida para publicação de livros eletrônicos para a coleção da SciELO Brasil deverá ser utilizada por outros países que formam a rede SciELO para publicar suas coleções nacionais, com gestão autônoma.


Venda de livros


Além das obras com acesso aberto e gratuito, o portal SciELO Livros também possui uma área na qual será possível ao usuário comprar obras das editoras integrantes do projeto no formato e-book.


“A venda deverá ser uma das fontes de recursos financeiros previstos na operação autosustentável do portal. Isso representa uma novidade para o SciELO, que tem acesso totalmente aberto para os seus periódicos. Entretanto, o número de livros em acesso aberto deverá predominar”, disse Packer.


Segundo ele, a meta inicial é publicar entre 300 a 500 títulos por ano no portal. Entretanto, esse número de publicações dependerá da reação das editoras e do público.


“Se o projeto tiver um sucesso semelhante ao do SciELO Periódicos, o desenvolvimento do portal poderá ser mais rápido, e ele deverá contar com muito mais livros”, estimou.


Criada em 2007, o SciELO Brasil é, segundo o Ranking Web of World Repositories, conhecido como Webometrics, o líder mundial entre os maiores portais de informação científica em acesso aberto e gratuito no mundo.


Em 2011, de acordo com Packer, a coleção SciELO Brasil teve uma média diária de 1,2 milhão de downloads de artigos. Seu modelo de publicações de periódicos é adotado hoje por diversos países e forma uma rede de coleções nacionais.


Os países com coleções certificadas estendem-se pela América Latina, como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México e Venezuela, e Europa (Espanha e Portugal). A coleção da África do Sul está prevista para ser qualificada e certificada em 2012.


A expectativa é que esses países também venham adotar o modelo SciELO de publicação de livros em formato digital.


SciELO Livros: http://books.scielo.org  

A Hora do Planeta (The Earth Hour) - Entrevista

A Hora do Planeta
Disponível em: http://miriammorganuns.blogspot.com.br/ (postagem em: 31 de março de 2012)
Também pode ser acessado em: http://www.fernandosantiago.com.br/horaplaneta.htm.

ENTREVISTA

Muito bom dia. É um prazer recebê-lo aqui para conversarmos sobre meio ambiente, e, em especial, sobre A Hora do Planeta.

Miriam Santiago: Fernando você que é Biólogo, músico amador, pesquisador de Botânica, mestre em História da Ciência e doutor em Educação, como você avalia o ato simbólico A Hora do Planeta – Earth Hour -, que será realizado neste sábado?
Fernando Santiago dos Santos: Como você mesma disse, é um ato simbólico. A crescente onda de conscientização ecológica pressupõe que as ações locais devam influenciar o mundo globalmente – o famoso mote da Educação Ambiental, “Pense globalmente. Aja localmente”. A sociedade, de forma geral, identifica os símbolos como ferramentas úteis para alcançar pessoas que não conhecem determinado assunto ou não estão totalmente conscientes de sua importância. Então, neste raciocínio, penso que o ato simbólico da “Hora do Planeta” tem sua função socioambiental definida como positiva.

Miriam Santiago: Como foi criado este ato simbólico? Você acredita que a energia economizada no período de uma hora, tempo do ato, traz alguma melhoria ao Planeta?
Fernando Santiago dos Santos: É uma iniciativa mundial da Rede WWF, conhecida como uma das maiores ONGs de ação ambiental, para enfrentar as mudanças climáticas. A economia de energia elétrica em uma hora, no mundo, é relativamente pequena comparada com a demanda energética atual. Como o ato é simbólico, creio que o intuito não é, de fato, realizar a economia, mas conscientizar as pessoas de que é possível economizar, no dia a dia (e não somente em uma hora por ano), com pequenas ações. A crise energética é global e nosso país está inserido nestas discussões. O que muitos não sabem – e está aqui a razão deste ato simbólico – é que o consumo energético está atrelado à emissão de gases de efeito estufa, principalmente em países em que a geração de energia elétrica é resultado de queima de carvão.

Miriam Santiago: Como você avalia a participação das pessoas, empresas, comunidade e governos neste ato? A participação é grande?
Fernando Santiago dos Santos: Bem, esta pergunta é um pouco difícil de ser respondida. Se você consultar o sítio eletrônico da WWF (http://www.wwf.org.br/), verá que há um destaque para a “Hora do Planeta”, onde são apontadas algumas estatísticas e informações sobre este ato. Não podemos dizer que a adesão é maciça. Em países onde já há, tradicionalmente, uma postura voltada ao que se define como sendo ‘ambientalmente correta’, podemos afirmar que talvez a adesão individual, corporativa e de Estado à iniciativa da WWF alcance proporções mais amplas quando comparada à adesão em países em que a cultura de consciência ambiental ainda é muito pequena ou quase nula. O Brasil demorou muito para acordar para as questões ambientais, e ainda estamos muito aquém do que poderíamos chamar de uma ‘consciência ecológica’ nacional, mas a cada ano noto mais e mais pessoas comentando o ato simbólico. Neste ponto, creio que a Internet, as redes sociais e todas as outras ferramentas tecnológicas afins são extremamente importantes na disseminação das informações sobre “A hora do planeta”. A mídia televisiva deveria, em meu entender, dar mais ênfase, já que ainda é o tipo de veículo de informação mais acessado em países como o Brasil.

Miriam Santiago: A sigla é globalmente conhecida como Earth Hour, mas os Estados Unidos são os maiores consumidores do planeta. Como você avalia essa questão?
Fernando Santiago dos Santos: A sigla em inglês é apenas uma convenção uma vez que é a língua “internacional” aceita pela maior parte dos países. Não poderíamos colocar a sigla em mandarim, em russo ou alemão, por exemplo, pois isto causaria grandes problemas ao ser distribuída para o mundo. Quanto à questão de os EUA serem, talvez, o país mais consumista do mundo, creio que devemos analisar a questão com certa clareza. O consumo é verdadeiramente o que move a nação norteamericana, mas se pensarmos nos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), só para contextualizarmos a pergunta, vamos notar que o consumo nesse bloco econômico é cada vez maior e mais agressivo. Não vejo um paradoxo entre disseminarmos a sigla em inglês e associarmos isto aos EUA – até porque outros países do mundo têm a língua inglesa como língua-mãe (Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e Canadá, por exemplo).

Miriam Santiago: Em sua opinião, quais outros atos você acredita serem mais eficazes para conscientizar a população sobre o aquecimento global?
Fernando Santiago dos Santos: Esta é a pergunta mais difícil da entrevista. Eu creio no mote do ‘pensar globalmente e agir localmente’. Não há sentido em arrumar um país todo se cada município, cada rua e cada residência não der conta de solucionar seus próprios problemas. Creio que a consciência global seja uma coisa mais filosófica que prática. As ações têm de ser locais – somente pela mudança pontual e geograficamente localizada é que se consegue atingir mudanças mais amplas. Há diversos atos que esporadicamente são incentivados por ONGs ambientalistas em municípios brasileiros, como corridas pelo meio ambiente, passeios de bicicleta e caminhadas ecológicas, plantio de mudas de plantas nativas, entre outros. Estas coisas são importantes pois mobilizam a consciência local, essencial para se avançar na tentativa de se delimitar uma ‘consciência global’.

Miriam Santiago: Aproveitando a oportunidade, conte-nos um pouco sobre seu trabalho, suas publicações na área, seus cursos, palestras.
Fernando Santiago dos Santos: Eu trabalho com educação formal desde 1987 e com educação informal e não formal (museus, unidades de conservação, exposições etc.) há pelo menos 15 anos. Já ministrei minicursos, workshops, oficinas e palestras em diversos espaços (universidades, empresas e escolas) versando sobre educação, biologia, história da ciência e meio ambiente – áreas que refletem minha formação eclética (graduação em Ciências Biológicas na Unicamp, mestrado em História da Ciência na PUC-SP e doutorado em Educação na USP). Meu currículo está disponível no link: http://lattes.cnpq.br/2271811478179514. Algumas publicações podem ser conferidas em: http://www.fernandosantiago.com.br/artigos.htm.

Miriam Santiago: Fernando, deixe seus contatos para que as pessoas possam acompanhar seu esforço e dedicação em prol do meio ambiente.
Fernando Santiago dos Santos: Meus e-mails pessoais são: fernandosrq@gmail.com  e fernando.autor@yahoo.com.br. Eu tenho uma homepage particular (www.fernandosantiago.com.br) e este blog onde posto alguns pensamentos e materiais de outras pessoas (http://www.fernandosantiago.blogspot.com.br/).

Miriam Santiago: Fernando, agradeço por sua participação neste dia especial, voltado à conscientização mundial do planeta. Desejo muito sucesso a você.
Fernando Santiago dos Santos: Foi um prazer.

domingo, março 25, 2012

Aulas no ensino superior do Instituto Federal de São Roque: ainda temos alunos meramente sentantes ou podemos falar de alunos pensantes?


O ensino bancário, comentado principalmente pelo educador Paulo Freire, continua sendo um grande estigma em nosso sistema educacional. A tabula rasa da população discente parece ainda ser reticente quanto a quebrar este paradigma. Sentar-se, escutar por horas a fio alguém falando, anotar o que é falado e simplesmente tentar memorizar o mínimo para se dar bem em um teste parece ser mais fácil (e menos desafiador) do que tentar preparar os conteúdos, ler, familiarizar-se com o que é comentado, criticar o que é lido e pensar sobre tudo isso. Mudar o status quo é tão temeroso quanto lutar pelo que se acredita ser verdadeiro.

A imagem desta sala de aula vitoriana me parece muito semelhante às que encontro atualmente nos recintos de nível superior. As tabulas rasas não se vestem mais com vestidos até os pés, os sapatos não são mais desconfortáveis e o mestre não utiliza mais palmatória, mas o olhar amorfo, o pensamento em devaneio e a robotização frenética de anotar o que é falado formam um conjunto atualíssimo.

Os alunos vestem outras roupagens, pensam em outras prioridades e levam vidas mais globalmente conectadas - raras vezes, porém, conseguem desvencilhar-se deste modus operandi arcaico e ultrapassado. O relógio acusa o início de mais um período de aulas e as carteiras são ocupadas por aqueles que formam a massa sentante. Isto mesmo: a massa sentante. O caderno (se existente ou, pelo menos, utilizado) é o principal instrumento de 'estudo' e o treino muscular dos dígitos é o exercício rotineiro. Fico pensando, aqui com meus botões (que testemunham muitas e muitas aulas...), o que realmente a massa sentante pensa ser um ensino superior.

A massa sentante, entretanto, deveria ser uma massa pensante e crítica. As aulas não deveriam ser apenas o momento de "passar conteúdos" que, infelizmente, poderão ser descartados como coisas pontuais em provas que exigem muito pouco raciocínio e muita memorização. O conhecimento, reunido em áreas diversas e compartimentalizado apenas por questões curriculares, não é algo para ser descartado - ele tem seu fundamento visceral na interpretação do mundo, na perspectiva das coisas e na visão que se tem sobre a sociedade, a natureza e o self. Estudar a morfologia das células não permite apenas saber que estas unidades estruturais possuem membrana, organelas, substâncias orgânicas e inorgânicas e um sem-fim de outros compostos e propriedades: estudá-las permite traçar histórias de descobrimentos, hipóteses, relações múltiplas têmporo-espaciais que se interligam com a fisiologia, a ecologia e outras logias criadas pelo homem para interpretar a natureza.



O ensino superior parece relutar em quebrar o paradigma das aulas expositivas, dos conteúdos memorizativos, das cobranças meramente burocráticas que forçam a massa sentante a mediocrizar a si mesma em torno de uma nota mínima de aprovação. Não se pensa em inovação, em quebra de paradigma, em sair da mesmice e encarar o desafio de não ser medíocre, mas autônomo em pensamento, crítico em pesquisa e visionário em termos de obter uma formação ampla, cidadã e portanto circunscrita a uma realidade temporalizada e contextualizada.

Escrevo manifestando uma mente talvez cansada de observar, em eternos dèja vus de décadas de trabalho pedagógico, a difícil tarefa de tentar discutir novas maneiras de ensinar para alunos de cursos superiores que a sala de aula não é apenas um lugar que pode tolher a liberdade de pensar - ela pode, mais severa e radicalmente, transformar mentes livres em escravas de um "Laissez-faire, laissez-passer, le monde va de lui-même" vilmente massacrante e massificador. E viva a decoreba! E viva a lei do mínimo esforço! E viva a aula com questionário, com textos fáceis, com o mínimo mediocremente "importante" para o engodo chamado "ensino superior".

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Sarau na casa do Renato Rogner


Fernando e André tocando duetos (flautas-doce soprano e tenor) na casa do Renato Rogner (18 de fevereiro de 2012).